Entrevista com Lucas Pagani, autor de Baile de Máscaras
Seu livro de estreia é obra é um romance que trata de família e luto, amizades e rivalidades, ambição e fé.
Entre mentiras e mortes misteriosas, o thriller de Lucas Pagani, Baile de Máscaras, narra um assassinato que entrelaça gerações em torno de crimes antigos e rivalidades familiares. Em uma cidade fictícia do Sul do Brasil, um brutal assassinato durante uma festa de formatura abala a vida de seus moradores, trazendo à tona segredos que estavam enterrados há décadas.
Em Baile de Máscaras, os personagens navegam por uma teia de mentiras que atravessa gerações. Rui Córdova, um escritor viúvo, é surpreendido pela visita inesperada de Vânia, uma antiga paixão de sua juventude. No entanto, antes que ela possa explicar os motivos de seu retorno, Vânia é assassinada. Quem teria cometido o crime e por quê?
A detetive Diana é a responsável por juntar as peças desse intrincado quebra-cabeça, desenterrando segredos que envolvem figuras importantes do município e rivalidades que há muito tempo permanecem sob as máscaras dos moradores. A investigação se desenrola em meio a reviravoltas, revelando um drama psicológico profundo, onde cada personagem esconde algo do passado.
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Quando pergunto sobre o que o inspirou a escrever Baile de Máscaras, Lucas me diz que:
Sempre quis escrever algo, e o gênero do mistério/suspense sempre me atraiu. Com relação a esta história específica, as primeiras inspirações vieram em um exercício de redação do Ensino Médio, onde começaram a nascer os primeiros personagens: o advogado Rui (que depois virou um escritor) e o padre Galileu. Com o passar dos anos, novas pessoas foram surgindo na minha imaginação até que decidi juntar todos esses personagens em uma trama comum. Autores como Harlan Coben e Dan Brown indiretamente me inspiraram na forma de desenvolver a narrativa, isto é, com capítulos oscilando de um núcleo de personagens para outro, terminando com ganchos e pistas aqui e ali, até culminar nas revelações da parte final, em que todos se cruzam.
Quando lhe pergunto sobre a escolha de ambientar sua história em uma cidade fictícia como São Filipe, Pagani me diz que:
A ambientação em uma cidade fictícia não só dá mais liberdade ao autor, como também evita o risco de contradições ou exageros na descrição de locais. Imaginei São Filipe mais ou menos como minha cidade natal, Lages, na Serra Catarinense, no sentido de não ser nem muito grande, nem muito pequena, uma cidade em que fosse possível os personagens conhecerem uns aos outros e fazerem parte da vida uns dos outros, sem contudo ser um local muito remoto ou rural. Apesar de os leitores terem identificado semelhanças com algumas cidades reais, não houve uma inspiração consciente, tampouco foi estabelecida canonicamente a localização de São Filipe, mas há sinais de que ficaria em algum lugar do Sul do Brasil.
Quando pergunto sobre como foi explorar os temas de morte e balanço de vida entre os personagens no enredo, Lucas explica que:
A morte é um elemento quase indispensável no gênero. O clássico "quem matou?" prende a atenção e instiga os leitores, mas quis trazer algo a mais e procurei inserir elementos psicológicos e desenvolver a jornada emocional dos personagens para que não fosse apenas uma investigação policial. No meu enredo, a identidade do assassino é sim procurada, mas é apenas mais um dos elementos que despertam a curiosidade. A motivação do crime e também os estranhos comportamentos de diversos personagens são ainda mais interessantes, pois todos estão de certo modo escondendo algo ou agindo de forma suspeita.
Quando questiono sobre os principais temas abordados no livro, Lucas menciona que:
Diria que são família e luto, passando é claro por outros temas como amizades e rivalidades, ambição e fé, e todos esses sentimentos que permeiam a vida humana. Refiro-me à família e ao luto porque combino diferentes cenários de vida em que esses pontos se tocam. É o caso, por exemplo, de Rui, que nunca superou a perda da esposa e da filha ainda bebê; de Leninha, que cresceu apenas com o pai porque a mãe morreu no parto; de Galileu, o menino adotado após a mãe morrer em um incêndio; e da jovem Marcela, que perdeu ambos os pais de modo trágico.
Quando pergunto como a narrativa reflete suas próprias experiências e visões sobre a vida e a morte, Lucas revela que:
É inegável que as peculiaridades do autor aparecem aqui e ali no decorrer da obra. Penso que transportei para a trama uma visão nem muito otimista, nem muito pessimista, pois a ideia de um final feliz que todos desejamos pode ter diferentes camadas. Até que se chegue a um final dito feliz, quanta tristeza precisa ocorrer? Ao mesmo tempo, a beleza da superação dos desafios e as descobertas e aprendizados são o que dá gosto à trajetória. Gosto muito de meu epílogo, porque nele amarro todos os personagens, dos principais aos coadjuvantes, e é nítido como todos eles cresceram e chegaram à conclusão de seu arco com alguma evolução em nível pessoal. Há uma citação em latim em determinado capítulo — Mors omnia solvit: “a morte resolve tudo” — que abre margem a diversas interpretações. Então, sim, posso dizer que a morte (ou diversas mortes) foram os ingredientes para resolver minha trama, mas ao mesmo tempo, Baile de Máscaras procura celebrar a vida dessas pessoas — muitas das quais talvez estivessem perdidas e ao fim dessas 300 páginas encontraram novo rumo na vida.
Quando lhe pergunto sobre a importância dos personagens principais e como eles simbolizam diferentes aspectos da existência humana, Lucas explica que:
Meu protagonista é Rui Córdova, um escritor viúvo que está escrevendo um discurso em homenagem à esposa quando recebe a visita inesperada de uma antiga colega de escola, por quem era apaixonado. A partir daí, há uma viagem ao passado, com resgate de memórias e feridas antigas sendo reabertas, envolvendo não só Rui e Vânia, como também outros moradores da cidade. Como o livro cobre mais de seis décadas de acontecimentos, há um foco grande em pessoas da terceira idade, mas o núcleo mais jovem, encabeçado pela estudante Marcela, o advogado Ramiro, a policial Diana e o chef Gavin, por exemplo, também cumpre um papel importante de equilíbrio das gerações, pensamentos e ações ao longo do enredo. O próprio Rui, em determinado momento da narrativa, sai de cena de modo um tanto abrupto, porque é necessário que outros ocupem o centro da narrativa, mas tudo faz sentido no fim.
Quando pergunto quanto tempo levou para concluir o livro, Lucas me conta que:
As primeiras ideias e rascunhos surgiram em 2010, e o ponto final foi digitado em 2021. Mas a maior parte dessa década não foi de efetiva escrita, mas de amadurecimento, coleção de ideias e planejamento. O trabalho de redigir mesmo levou 11 meses.
Quando lhe pergunto se houve algum capítulo ou cena que foi particularmente desafiador de escrever, Lucas revela que:
Sim, o livro foi praticamente todo escrito na ordem da versão publicada, exceto uma parte da reta final em que precisava de fato revelar o que havia acontecido 25 anos antes e que havia mudado a vida daquelas pessoas. Àquela altura, precisei parar e pular para o epílogo, que já estava pronto na cabeça, mas seria mais leve e gostoso de escrever, até porque senti que precisava daquele estado de espírito e da sensação de satisfação por ver onde queria chegar, para só então retornar e "rechear" a lacuna que faltava na narrativa. Além disso, foi particularmente tenso escrever a morte da esposa de Rui, Agnes. É uma personagem que já sabemos desde o início que irá morrer, mas a forma como tudo acontece é trágico e ao mesmo tempo bonita. Os leitores descrevem como uma das partes mais intensas da história.
Quando pergunto como foi a experiência de criar uma trama complexa com reviravoltas e segredos interligados entre os personagens, Lucas responde que:
Muito divertida e instigante. Sempre reclamei de livros ou filmes que frustram no final por terem pistas aleatórias que não levam a lugar nenhum, ou furos e contradições na hora de resolver o quebra-cabeça, então busquei construir um mistério em que todas as peças se encaixassem. E acredito que consegui. Cada diálogo, por mais inofensivo que pareça, foi pensado minuciosamente para que tudo fizesse sentido ao fim. Foi preciso construir fichas com datas, linha do tempo, e cheguei a imprimir uma tabela dos capítulos, delimitando a sequência dos acontecimentos e quem participaria de cada cena.
Quando lhe pergunto sobre sua conexão pessoal com os temas abordados no livro e como isso influencia sua escrita, Lucas reflete que:
Acredito que trabalhar no Judiciário pode ter influenciado alguns aspectos da trama, bem como meu passado como jornalista (a própria policial Diana, nas primeiras versões, seria uma repórter investigando o crime). Mas o livro trata de temas que me são caros, como relações familiares, amizades, e a própria jornada de Rui como escritor, e a temática do apreço pelas artes, seja na literatura (temos Leninha como dona de uma editora, por exemplo), ou na música, com a personagem Natália, que é uma cantora de sucesso.
Quando pergunto a Lucas sobre sua formação em Jornalismo e Direito e como essas áreas influenciam sua abordagem à escrita, ele me explica que:
- Concluí o curso de Jornalismo em 2015 e o de Direito em 2022, com o livro já publicado, mas de certo modo essas graduações fizeram de mim quem sou e isso se reflete no modo de escrever. Quando trabalhei em redação de jornal diário, aprendi a escrever como gostaria de ler aquele texto, colocava-me no lugar do leitor, então tenho certeza de que na literatura também foi assim: escrevi o livro que eu gostaria de ler.
Quando lhe pergunto se está trabalhando em algum novo projeto literário atualmente, Lucas revela que:
- Tenho ideias e alguns rascunhos, mas ainda estão em fase embrionária. Tenho duas filhas pequenas, então foi preciso dar uma pausa, afinal a inspiração exige também a transpiração de sentar horas a fio diante da tela.
Quando pergunto o que ele espera que os leitores tirem de Baile de Máscaras, Lucas reflete que:
- Uma leitura prazerosa, mas um entretenimento que, além de diversão, traga reflexão sobre como sempre há mais por trás das aparências. Usei como epígrafe do livro a canção "As aparências enganam", em que Tunai e Sérgio Natureza falam sobre opostos, fogo e gelo, verão e inverno, e descrevem que tanto o amor quanto o ódio podem nublar nossa percepção do outro.
Quando lhe pergunto como tem sido a recepção dos leitores até agora, Lucas responde com entusiasmo que:
- Incrível! Tanto nas redes sociais quanto nos eventos presenciais de que pude participar, a exemplo da Bienal do Rio em setembro, o público se mostra muito cativado por Agnes, Diana, Josefa, Gabriel e companhia. Meus personagens ganharam admiradores que ficam pedindo sequência de suas histórias.
Por fim, quando pergunto se alguma reação ou feedback dos leitores o surpreendeu, Lucas compartilha que:
- Diversos depoimentos foram marcantes, desde alunos de ensino fundamental, numa visita a uma escola, com mil perguntas sobre o processo da escrita. Lembro-me também de uma leitora que veio contar que chorou muito com a morte de Agnes porque foi numa circunstância parecida à de um parente seu. De certo modo, Baile de Máscaras fala ao coração de todos de formas variadas, e a recepção do público é o prêmio do autor.